Floração agosto 2014
Os orquidófilos não são apenas aquelas pessoas apaixonadas pelas orquidaceas. Eles não se fecham em seu mundinho de laelias e cattleyas, dendrobiuns e ondiciuns, buscando a flor extraordinária, de armação perfeita, tonalidade gloriosa e perfume celestial. Podem até cometer exageros nos cuidados com as plantas e no tempo que a elas dedicam. Mas também enxergam além do orquidário e procuram acompanhar muito de perto o que acontece com a natureza.
Essa simpática comunidade está atenta, por exemplo, aos ambientes naturais onde florescem as orquídeas. Preocupa-se sobremaneira com a devastação de ecossistemas que são o habitat de espécies raras — algumas, talvez, sequer catalogadas e que estão desaparecendo diante da ocupação irracional de áreas que precisavam ser resguardadas como patrimônio intocável.
De fato, as fronteiras da irresponsabilidade têm avançado céleres sobre nossas florestas, ecossistemas costeiros, matas ciliares… A hileia amazônica recua para dar lugar à pecuária, o cerrado perde sua cobertura vegetal, a exploração imobiliária desfigura a faixa litorânea. E cada vez que os tratores se põem em marcha, atropelam, dentre outras criaturas de Deus, as orquídeas. Sim, porque o Brasil é um dos países que apresentam o maior conjunto de espécies de orquídeas, com cerca de 3.500 espalhadas por todas as regiões. E elas podem surgir em qualquer parte, em qualquer latitude ou altitude, seja qual for a temperatura, o nível de umidade…
No Nordeste, a esta altura, já se considera comprometida a sobrevivência de algumas das mais belas orquidaceae, nos ambientes que lhes dão abrigo desde que o mundo é mundo. É o caso da Cattleya labiata no Ceará. A serra de Uruburetama, berço de belíssimas flores rubras, está sendo desmatada para dar lugar ao plantio de bananeiras. Árvores centenárias são abatidas e incineradas com toda a sua preciosa cobertura de epífitas. Crime que até agora tem permanecido impune. Entre o Rio Grande do Norte e Alagoas, a vítima da vez é a Cattleya granulosa, elegante moradora das áreas costeiras, que o “boom” imobiliário vem erradicando com despudorada avidez.
Nas associações orquidófilas, fatos como esses são discutidos. Geram-se denúncias. Procura-se conscientizar as pessoas quanto à insensatez que está sendo perpetrada. Por isto, é sempre alentador quando surge um novo grupo de “orquimaníacos”, porque já se sabe que funcionará como caixa de ressonância de idéias novas, como propagadora de uma nova visão relacionada às coisas da natureza.
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(Italo Gurgel é jornalista e presidente da Associação Cearense de Orquidófilos)
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