sexta-feira, 15 de julho de 2011

OrquidaRio denuncia coleta predatória de Cattleya guttata.



Nesta semana visitei o site da OrquidaRio e quase por acaso constatei que o Boletim trimestral estava disponível, ao iniciar a leitura deparei com o relato da Senhora Maria do Rosário  a respeito de retirada criminosa de Cattleya guttata do  habitat,  no municipio de Maricá/Rio de Janeiro.

O relato é impressionante valendo uma leitura, reflexão e engajamento na campanha do OrquidaRio, boa leitura:


Vou contar a vocês uma história que ainda não está concluída, mas que já causou um estrago ambiental provavelmente irreversível. E que irá se repetir, se não mudarmos definitivamente a nossa atitude como orquidófilos.

Há algumas semanas alguns sócios da OrquidaRio foram avisados que várias grandes touceiras de Cattleya guttata haviam sido retiradas da restinga de Maricá para serem comercializadas.

Como sabemos que pouco resta da vegetação nativa da restinga do estado e que, particularmente no município de Maricá, a restinga vem sofrendo grande degradação pensamos que o caso deveria ser decifrado.

A informação que tivemos foi de que um mateiro de Maricá retirou várias plantas adultas de C. guttata do ambiente e que elas já estavam sendo distribuídas por alguns orquidários do nosso estado que infelizmente insistem em trabalhar com plantas coletadas do mato.

Constatamos que as plantas já não estavam com o mateiro e nos informaram que o serviço havia sido feito por encomenda. Estivemos em um dos orquidários que supostamente haviam feito o pedido. E lá estavam cerca de 40 plantas de C. guttata, ainda nos pedaços de tronco dos seus hospedeiros naturais. O proprietário comunicou que todas já estavam vendidas e iriam para outro estado.

Como um fato positivo, conseguimos apoio da COMAR (Círculo Orquidófilo de Maricá) e da ASSON (Associação dos Orquidófilos de Niterói) para apresentarmos uma denúncia em conjunto.

A denuncia junto ao INEA foi feita em nome apenas da OrquidaRio e a que fizemos ao IBAMA foi em nome das três associações.

Agora dependerá da eficiência destes órgãos públicos em apurar a denuncia a tempo a fim de que os fatos possam ser comprovados.

Esta história, séria por si só, deve nos fazer refletir porque estes “roubos de orquídeas do mato” ainda acontecem em 2011, em vários pontos do país. Sabemos que não se trata de um fato isolado e que, em vários estados brasileiros, ouvimos casos em que mateiros vêm perpetuando esta prática e que alguns orquidários inescrupulosos se prestam a comercializar as plantas coletadas. Por que, digo que estes orquidários são inescrupulosos? Porque seus proprietários sabem que estão obtendo orquídeas que foram coletadas ilegalmente e não se incomodam com a desonestidade do ato, nem com as conseqüências pela conservação das populações nativas. Mas por que os orquidários ainda se interessam em comercializar essas plantas “do mato”, quando sabem que hoje a qualidade das orquídeas reproduzidas em laboratório é muito superior ao que ainda resta nos ambientes naturais?

Além de quererem lucro rápido e pouco trabalho, a outra parte da resposta é porque aqueles orquidários sabem que existem orquidófilos que ainda continuam desejando as plantas “do mato”!

Podemos dizer que estes orquidófilos também são inescrupulosos? Sim – ou então profundamente ingênuos e/ou desinformados. Mesmo os que moram em locais privilegiados onde a natureza ainda é exuberante, deve estar conscientes que hoje isto é uma exceção.

Ambientes ainda ricos em orquídeas, quando não fazem parte de áreas de conservação (muitas vezes com fiscalização deficiente), estão quase invariavelmente sob pressão imobiliária. Os fragmentos de diferentes ambientes que, em 2011, ainda estão em bom estado de conservação, são muito raros. Alguns deles ainda resistem como sendo excelentes bancos de sementes, para que as várias espécies de orquídeas brasileiras, e inúmeras outros organismos, continuem sua batalha pela sobrevivência. Destruir, de alguma maneira, estes fragmentos preservados atualmente é um crime contra o planeta e contra as nossas queridas orquídeas. Quando todos nós, o mateiro em Maricá, o comerciante inescrupuloso e o comprador descompromissado entendermos isto, poderemos todos nos orgulhar da nossa atuação como cidadãos. Até que este dia chegue deveremos, como orquidófilos, manter uma ética estrita em relação à compra de plantas e devemos denunciar qualquer prática ilegal ou suspeita.

Maria do Rosário de Almeida Braga (Comissão de Conservação).






A OrquidaRio - Orquidófilos Associados é uma associação sem fins econômicos com sede na cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado do Rio de Janeiro, tendo sido fundada em 1986.
A publicação foi autorizada pela diretoria da OrquidaRio, na pessoa da Sra. Nilce Carlos em 15/07/2011.

2 comentários:

José Antonio disse...

Gostei desta denúncia é pena não haver mais pessoas honestas a fazer esse serviço por uns tostões destroem a natureza toda obrigado pela publicação e um abraço a todos os brasileiros ...

Flavio I de Araujo disse...

Muito boa essa denuncia,eu sou novo no cultivo de orquídeas e quando encontro uma planta na natureza eu me preoculpo em mantela,pois pego uma muda e mais nada,sempre procuro observar se tem mais plantas da espécie para continuar o seu ciclo de vida,se todos fizessem assim,nenhuma espécie estaria em risco de extinção.Eu moro em Maricá e agora também vou ficar de olho nesse pessoal.