Otimização da Produção de Mudas de Cattleya labiata:
Efeito da Sacarose no Crescimento In Vitro e na Aclimatização.
Foto Diva Correia
Entre as Angiospermas, a família Orchidaceae é uma das maiores em número de espécies, com aproximadamente 35.000 (SOUZA; LORENZI, 2005). Podem ser reconhecidos de 750 a 850 gêneros, dos quais cerca de 200 ocorrem no Brasil (SOUZA; LORENZI, 2005). Essas plantas são encontradas em todas as regiões do planeta, inclusive nas boreais, e apreciadas mundialmente pela beleza das suas flores quanto às cores, tamanhos e formas (REGO-OLIVEIRA et al., 2003). Entre as orquídeas, o gênero Cattleya tem sido o mais popular, cultivado e comercializado, evidenciando a sua importância econômica (RAPOSO, 1993; DIGNART et al., 2009); possui cerca de 70 espécies, inúmeras variedades e híbridos (COLOMBO et al., 2005). Entre as espécies, destaca-se a Cattleya labiata, nativa do Nordeste brasileiro e uma das mais apreciadas orquídeas do mundo (Figura 1) (RAPOSO, 1993).
Em função do extrativismo, do aumento das áreas destinadas à agricultura e à construção civil, bem como da falta da aplicação de políticas públicas relacionadas à conservação dos recursos genéticos nos diferentes biomas brasileiros, muitas espécies de orquídeas estão ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008; FERREIRA; SUZUKI, 2008). Nesse sentido, enfatiza-se a importância do aumento do conhecimento da biologia dessas espécies com ênfase em métodos eficazes de reprodução e de propagação, visando minimizar as perdas desses materiais, manter a variabilidade genética e favorecer o repovoamento.
As técnicas de cultivo in vitro têm sido largamente utilizadas para a produção de mudas (FARIA et al., 2012) como também para estudos relacionados ao crescimento e desenvolvimento de orquídeas (SUZUKI et al., 2010; SCHNEIDER et al., 2012) e sua conservação ex situ (FERREIRA; SUZUKI, 2008).
Como são plantas herbáceas que apresentam crescimento lento, consequentemente, a produção de mudas é demorada (SUZUKI et al., 2010). Adicionalmente, a formação das flores pode levar de 3 a 10 anos dependendo da espécie, o que prolonga a fase de reprodução (FERREIRA; SUZUKI, 2008; SCHNEIDER et al., 2012). A germinação de sementes de orquídeas na natureza ocorre somente na presença de fungos específicos, e estima-se que apenas aproximadamente 5% das sementes dessas plantas possam germinar em condições naturais (ARDITTI, 1979). Tais motivos
reforçam a importância do uso da semeadura in vitro e da aplicação de diferentes técnicas de cultura de tecidos de plantas tanto sob aspecto da multiplicação rápida quanto preservacionista devido à obtenção de mudas em larga escala e de qualidade fitossanitária (FARIA et al., 2012).
No cultivo in vitro, os meios de cultura utilizados são compostos por macro e micronutrientes, vitaminas e açúcares, suplementados quando necessário, de reguladores de crescimento, aminoácidos e agente solidificante em função da etapa do processo e/ou da espécie estudada. Segundo Suzuki et al. (2010), os meios de cultura de Knudson (1946), Vancin e Went (1949) e Murashige e Skoog (1962) são alguns dos mais utilizados no cultivo in vitro. Meios de cultura desenvolvidos para o cultivo in vitro de plantas lenhosas como Wood Plant Medium (LLOYD; McCOWN, 1980) e JADS (CORREIA et al., 1995) são citados na literatura no cultivo de Cattleya loddigesii (ARAÚJO et al., 2007) e C. labiata (CORREIA et al., 2011a; CORREIA et al., 2011b), respectivamente. Alguns estudos indicam que a redução das concentrações dos macronutrientes (REGO-OLIVEIRA et al., 2003; SORACE et al., 2008; PIVETA et al., 2010) favorece o crescimento vegetativo.
Entretanto, as condições de cultivo e o tempo de cultivo podem resultar em alterações morfológicas e fisiológicas sendo responsáveis por grande parte das perdas durante a aclimatização (DIGNART et al., 2009). É justamente na etapa da aclimatização que se viabiliza a metodologia de produção in vitro de plantas, pois é nela que se obtém o número de plantas aptas ao plantio, ou seja, maior sobrevivência de mudas com qualidade. Sendo assim, são necessários pesquisa e desenvolvimento para métodos de aclimatização de plantas.
Nesse sentido, especialmente no cultivo in vitro de orquídeas, alguns estudos ressaltam a importância da avaliação de diferentes concentrações dos carboidratos visando à melhoria do crescimento e desenvolvimento da parte aérea e radicular das culturas (MOREIRA et al., 2007; SORACE et al., 2008; PIVETTA et al., 2010; ARAÚJO et al., 2011). O carboidrato adicionado ao meio de cultivo fornece energia metabólica e estruturas carbônicas para a síntese de compostos orgânicos necessários ao crescimento das células (CALDAS et al., 1998) e também propicia a atividade heterotrófica das plantas enquanto em cultivo in vitro. A redução da concentração da sacarose àquela usual (30 g L-1
),
na fase de enraizamento in vitro, tem apresentado melhoria do sistema radicular e favorecido a sobrevivência das mudas obtidas durante a aclimatização (MOREIRA et al., 2007; ARAÚJO et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2011). Essa redução da fonte de açúcar nas etapas finais de cultivo in vitro também pode beneficiar a atividade autotrófica quando as mudas ainda estiverem in vitro, contribuindo para melhor aclimatização delas sob condições de casa de vegetação ou telados (ARAÚJO et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2011).
O cultivo de orquídeas in vitro tem sido uma linha de pesquisa da floricultura na Embrapa Agroindústria Tropical. Nove orquídeas tropicais estão sendo cultivadas no Laboratório de Cultura de Tecidos de Plantas, objetivando definições de protocolos de propagação in vitro e a aclimatização de mudas obtidas da germinação de sementes e da micropropagação.
Entre as espécies e híbridos em estudos, cinco pertencem ao gênero Cattleya. Para a espécie Cattleya labiata, as metodologias de crescimento de plântulas in vitro estão sendo otimizadas verificando-se o efeito da redução da sacarose e o seu resultado na aclimatação dessas mudas (ARAÚJO et al., 2011; CORREIA et al., 2011b; NASCIMENTO et al., 2011).
A seguir, são descritas as etapas de obtenção das plântulas in vitro de C. labiata e sua aclimatização em telado:
Etapa 1: Desinfestação da cápsula, inoculação das sementes, germinação de sementes e obtenção de plântulas in vitro
São utilizadas cápsulas de C. labiata totalmente fechadas com tempo médio requerido entre a polinização e a coleta em torno de 10 meses (FARIA et al., 2010). A cápsula é lavada com detergente comum e enxaguada em água corrente. Em câmara de fluxo laminar, a desinfestação da cápsula
ocorre em solução de hipoclorito de sódio (NaOCl) contendo 2% de cloro ativo com acréscimo de três gotas de Tween 20 para cada 100 mL da solução desinfestante, durante 30 minutos, em agitação constante. Em seguida, a cápsula é transferida para recipiente com água destilada autoclavada, onde aquela é lavada, repetindo, sucessivamente, por duas vezes. Em seguida, transfere-se a cápsula para uma placa de Petri previamente autoclavada
e, com auxílio de um bisturi, corta-se a cápsula longitudinalmente ao meio. Com uma espátula, retira-se uma pequena quantidade de sementes e, em seguida, elas são pulverizadas em recipientes (capacidade de 250 mL) contendo 30 mL de meio de cultura JADS (CORREIA et al., 1995) com as soluções salinas reduzidas à metade. O meio é suplementado com 30 g L-1 de sacarose e 1,7 g L-1 de Gelrite® marca Sigma. O pH do meio de cultura é ajustado para 5,8 antes da sua esterilização em autoclave à temperatura de 121 °C, durante 15 minutos.
As culturas são mantidas em sala de crescimento à temperatura de 27 ± 2 ºC e fotoperíodo de 12 horas com radiação ativa fotossintética de 30 μmol m-2 s-1 fornecida por lâmpadas fluorescentes de 40 W.
Continuação do trabalho click aqui:
http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/951937/1/CATTLEYALABIATA.pdf
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